20/03/2012

Mãe Desnecessária

     A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo.
    Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou estranha.
    Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas
    e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso.
    Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super mãe que todas
    temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.
    Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.
    Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso.
    Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma
    droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.
    A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical.
    A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.
    Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não para de se transformar ao longo da vida.
    Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo.
    O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito
    aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.
    Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres.
    Esse é o maior desafio e a principal missão.
    Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.


Marcia Neder (#email Andrea Vela)