30/06/2011

SOLIDÃO CONTENTE


O que as mulheres fazem quando estão com elas mesmas
*por Ivan Martins
Ontem eu levei uma bronca da minha prima. Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que eu às vezes escrevo sobre solidão feminina com alguma incompreensão.
Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas e não é assim. Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem. Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas.
Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, tem duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita, batalhadora, independente e mora sozinha.
Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas.
Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com a cachorra nos pés e curtir a minha casa, disse a prima. Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas.
Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e, para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor.
Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz, com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado melhor do que andou.
Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é muito mais pobre.
A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens) cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que muitos homens simplesmente desconhecem.
A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora. Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para dentro, onde dói.
Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana, ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o ódio incompreensível que me consome?
A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando fervorosamente praticar a negligência pela vida interior com apoio da publicidade.
Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser superficial e feliz. Gastando senão a economia não anda.
Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres sejam inatas. Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos.
Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que virá da transformação é difícil dizer.
Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver escolha.
Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos.
Repasse para suas amigas, especialmente para as que não sabem fazer sua "solidão contente!" e. para seus amigos entenderem e valorizarem a riqueza interior de certas mulheres comparada aos homens.
#Ivan Martins é editor-executivo de ÉPOCA

27/06/2011

QUE EU CONTINUE A ACREDITAR NO OUTRO

Que eu continue a acreditar no outro mesmo sabendo de alguns valores esquisitos que permeiam o mundo;

que eu continue otimista, mesmo sabendo que o futuro que nos espera nem sempre é tão alegre;

que eu continue com a vontade de viver, mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, uma lição difícil de ser aprendida;

que eu permaneça com a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que com as voltas do mundo, eles vão partindo...

que eu realmente sinta sempre vontade de ajudar as pessoas, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, sentir, ou entender esta ajuda;

que eu exteriorize a vontade de amar, entendendo que amar não é sentimento de posse, é sentimento de doação;

que eu alimente minha garra, mesmo sabendo que a derrota e a perda são ingredientes tão fortes quanto o sucesso e a alegria;

que eu atenda sempre mais à minha intuição, que sinaliza o que de mais autêntico possuo;

que eu pratique sempre mais o sentimento de justiça, mesmo em meio à turbulência dos interesses;

que eu manifeste o amor por minha família, mesmo sabendo que ela muitas vezes me exige muito para manter sua harmonia;

que eu acalente a vontade de ser grande, mesmo sabendo que minha parcela de contribuição no mundo é pequena;

e, acima de tudo...

que eu lembre sempre que todos nós fazemos parte desta maravilhosa teia chamada vida, criada por alguém bem superior a todos nós!



#Autor desconhecido

15/06/2011

FÉRIAS


Ela havia acabado de se separar do terceiro casamento e decidiu tiraria férias, mas não eram férias do trabalho. Muito pelo contrário....trabalho, filhos, pais, amigos...isso ela quero muito. Queria férias para seu coração. Quer dar um tempo pra ele, um tempo para ele entrar em sintonia com sua mente e só assim, acreditava que teria, ou melhor, tentaria um relacionamento sólido. Ela falava com seu coração "chega de se jogar de cabeça na relação, chega de se apaixonar, pelo menos por enquanto". O coração de Helena estava todo machucado. Saiu de um relacionamento e foi emendando em outro, até que  descobriu que, na realidade, o que fez foi tentar esquecer um amor com outro. E sabe com propriedade que isso definitivamente não funciona, e não funciona porque ela precisava dar um tempo pra ela mesmo. Ela sabia que mesmo que em uma relação fosse ela quem não quisesse mais, ela sofria - eterna romântica - ela sofre e este sofrimento tinha que ser sentido, ela tem que chorar, sentir saudade, sofrer a perda, pois é isso a fazia crescer, analisar onde errou, porque se um de seus relacionamentos acabou, se ela ou o marido saiu pela porta é porque o outro deixou a janela aberta. Não havia culpados, não havia inocentes. Seu coração, que está ainda cheio de curativos não pode amar de novo agora, não pode porque não está totalmente sarado e o que fez emendando uma relação na outra? Teve outros relacionamentos mal resolvidos. Por isso Helena avisou: "Coraçãozinho, agora estou de olho em vc. Não pense que você vai pular nos braços do primeiro gato que ver por aí. Você vai ficar de cama, se restabelecendo, cicatrizando suas feridas que estão abertas e algumas que sequer se fecharam de outros amores de tão profundas que foram". Ela é uma mulher que adora estar apaixonada, mas desta vez não será por um homem, será por ela mesmo, pela vida, pelo trabalho, por seus filhos, seu bebê, sua família e seus amigos, pq esse coração enorme que tem está de férias em um spa, descansando e se fortalecendo para quando estiver totalmente curado e novamente forte, possa se apaixonar mais uma vez. Porém, estará pronto para sentir tudo o que ele precisa, merece e deve sentir, mas sem resíduo de nenhum amor passado. O coração de Helena estará pronto e limpo para receber um novo amor, mesmo que, depois tenha que ir novamente para um recesso. Helena pensava: "A vida é assim: a paixão é a engrenagem do mundo e sem ela nada acontece". Só pedia para que não demorasse muito a se restabelecer, porque ele não dói mais, só precisa ficar mais forte. Afinal, não sabe qual será a dimensão do amor que virá pela frente, mas tem a certeza de que tem que estar pronta.
  

#VANIACARVALHO

13/06/2011

PRIMEIRO DIA

Certo dia, através de uma excelente ideia de uma amiga, ela decidiu criar um blog.  Não tinha a intenção de escrever textos de auto ajuda, tampouco que servir de modelo de vida para alguém, até porque não sabia se alguma louca seria capaz de viver tudo o que ela viveu e que ainda vai viver. O objetivo dela era um só, escrever de tudo um pouco. Costumava dizer que sua vida daria uma enciclopédia, pois em um só livro teria que cortar muitos capítulos, sendo assim imaginou que ficaria pela net por um bom tempo. 
Como toda boa pisciana tem a cabeça nas nuvens, sonha com um príncipe encantado e vive se apaixonando.  Ela acha que esse negócio de dizer que amor é um só é bobagem...amou todos os homens de sua vida intensamente...amou de verdade e eternamente o quanto durou.  Às vezes pensava que era melhor ficar sozinha, pois amar dói...pelo menos em ela, pois é ciumenta e uma eterna apaixonada. Já foi casada e fiel, acreditem, por 14 anos e foi apaixonada por seu primeiro ex-marido durante os 20 anos que viveram juntos como ainda estivessem em lua de mel. Só que, como tudo que um dia começa, acabou.  E acabou mal, porque homem nunca quer se separar, mas ela precisava... ela vivia uma vida muito metódica, da casa para o trabalho e do trabalho para casa. Um dia decidiu voltar a estudar, queria fazer uma faculdade, e foi ai que tudo começou ou terminou, depende do ponto de vista. Helena começou a ver que existia vida fora de seu casamento, fez amigos de diversas idades, divertia-se com os professores, porém a situação em casa estava ficando ruim, seu marido com ciúmes, mas dava pra ir levando, porém um dia percebeu que o seu casamento já estava desgastado, sentia-se como estivesse com um paralelepípedo amarrado aos pés e afundando, se afogando, precisava respirar, precisava subir.  Foi então que cortou a corda e subiu correndo para tomar ar, muito ar, vento batendo na cara, que delícia, era a liberdade.  Apertou o botão, chutou o balde, jogou a toalha, esta olhando pra dentro de si como nunca havia olhado antes. Não quer dizer que não teve momentos em que ficou deprimida, pois sentia falta da família, mas quando chegava em casa, cansada de um dia cheio e podia jogar seus sapatos longe sem ninguém reclamar, isso não tem preço. LIBERDADE!!!!!! Ela mandava nela própria, fazia o que queria. "Crianças hoje não vamos jantar, vai ser pizza!", e podia ser pizza, e era pizza. Não tinha ninguém pra falar: "Isso lá é dia de se comer pizza?" "Tem que comer legumes!"  Ora, ela sabia de tudo isso, mas queria comer pizza e era naquele dia, eu não queria fazer janta e não fazia, comeram pizza.  
Sentada em frente ao computador lembrou-se de um dia que voltava pela Rio-Niterói, dirigindo, sozinha, com Ana Carolina no ultimo volume cantando "Pra rua me levar", as janelas bem abertas, o vento entrando gelado, era uma hora da manhã.  Helena não esquece aquele dia, foi demais, a emoção de poder estar ali não tinha preço. Ela olhava para seu rosto pelo retrovisor e pensava: "Caramba posso fazer o que quiser, chegar a hora que quiser".  Claro que a responsabilidade com os filhos continuava, mas um marido pesava mais que três filhos, sabia que eles estavam bem.
Ela comentou toda a emoção que sentiu com as amigas, não queria fazer apologia à separação, muito pelo contrário, gosto de estar casada, tanto o é que me casou três vezes, mas naquele momento ela estava onde devia e precisava estar, LIVRE. Na realidade era pra estar triste, pois estava separada a menos de um mês, mas estava bem, estava feliz, estava com meus filhos. Helena pensava, como Deus é perfeito, faz tudo no momento certo e este momento era dela de novo.